Os números mostram o aumento das temperaturas globais, apesar de três anos consecutivos de resfriamento do padrão climático La Niña.
Marcellus Campêlo
Os últimos oito anos – de 2015 a 2022 – foram os mais quentes já registrados, de acordo com o relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado recentemente e recebido com apreensão por todos que se preocupam com o futuro do planeta. Os números mostram o aumento das temperaturas globais, apesar de três anos consecutivos de resfriamento do padrão climático La Niña.
O aumento do nível do mar, provocado pelo derretimento de geleiras, e o aquecimento dos oceanos, atingiram números recordes. A concentração dos principais gases de efeito estufa alcançou a sua pior marca e tudo aponta na direção do recrudescimento das mudanças climáticas nos próximos anos, caso atitudes drásticas não sejam colocadas em prática, em todo o mundo.
Como disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonoio Guteress, em comunicado sobre o assunto, as ferramentas, o conhecimento e as soluções para enfrentar o cenário assombroso que se desenha já existem e estão postos. Mas é preciso acelerar o ritmo e, nesse quesito, estamos perdendo terreno, com passadas sempre mais curtas, muito aquém do que precisa ser feito.
Nesse compasso, a tendência é de que ocorram, cada vez com mais frequência, eventos climáticos extremos, ocasionando impactos socioambientais profundos, especialmente sobre os países mais desassistidos. Estamos falando da intensificação dos períodos de secas e inundações e do crescimento das ondas de calor, afetando a produção alimentar e as vidas em todo o mundo, mas com consequências ainda mais severas aos que se encontram abaixo ou na linha da pobreza.
Ecossistemas inteiros podem ser destruídos e o relatório mostra que tudo caminha nessa direção. As mudanças climáticas já estão afetando, por exemplo, ações que ocorrem normalmente na natureza, como o período de florescimento das árvores ou de migração dos pássaros.
O relatório mostra que a temperatura global está em 1,15°C, acima da média de 1850-1900. A ONU considera que, para manter em 1,5 °C até 2100, índice considerado suportável já que a previsão é de que excederá 2 °C, é preciso haver cortes de emissões de gases de efeito estufa. Isso implicará em decisões e medidas de grande monta, principalmente dos países mais desenvolvidos, de onde provém a maior parte do problema, e investimentos em sistemas de monitoramento e de alerta para mitigar os impactos.
Além disso, o órgão alerta para a necessidade de ajuda significativa para que as cidades mais pobres e vulneráveis possam enfrentar os efeitos dos eventos climáticos extremos, que provocam, dentre outros, a insegurança alimentar e o aumento da desnutrição, questões que se aprofundam ainda mais com os conflitos prolongados, como a Guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo.
De acordo com o levantamento, os eventos climáticos extremos já provocaram deslocamento populacional e pioraram as condições de vida de 95 milhões de pessoas. Também cita que 8 milhões deixaram suas casas em decorrência das enchentes, com dados até outubro de 2022. Os danos totais e perdas econômicas chegam a US$ 30 bilhões.
Além dos efeitos citados, sabemos que as mudanças climáticas causam escassez de água doce no planeta, a extinção de espécies e colocam em risco as cidades costeiras, com o derretimento das geleiras e aumento do nível do mar. Grandes quantidades de chuvas ocasionarão mais deslizamentos de terra e o aumento das enchentes. A seca poderá provocar falta de água em regiões onde já há escassez e o aumento da ocorrência de incêndios e perda da biodiversidade. A saúde também é uma das áreas afetadas, a partir da proliferação de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e malária, assim como pelos efeitos causados pela desnutrição e fome.
O futuro parece sombrio, mas o entendimento global é de há saídas, sim, desde que os países se unam para, juntos, adotarem as medidas necessárias para frear essa escalada, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa e dando suporte e apoio às populações mais vulneráveis.
Nesse sentido, temos a situação da população amazônica, onde os efeitos das mudanças climáticas também são sentidos, com cheias recordes e chuvas cada vez mais intensas. Reduzir o desmatamento na região é uma questão urgente a ser enfrentada, principalmente pelo seu papel na regulação do clima global.
O governador do Amazonas, Wilson Lima, tem atuado nesse campo, não somente na formulação de políticas públicas no Estado, mas também na captação de parceiros internacionais. Um desses parceiros é a Alemanha, a partir da reativação do Fundo da Amazônia, criado para financiar projetos de redução do desmatamento e fiscalização do bioma.
Nesses primeiros dias do segundo mandato do governador, o Amazonas já captou cerca de R$ 75,8 milhões, recursos provenientes de cooperações internacionais junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ao Banco de Desenvolvimento Alemão KFW, além do Fundo Amazônia, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Um dos projetos que começará a ser executado no Amazonas, pela Secretaria de Meio Ambiente, é o de “Bioeconomia e REDD+: Engajando o setor público e privado para o desenvolvimento econômico e social, em bases sustentáveis e de baixas emissões”. Para a iniciativa, o Estado contará com 13 milhões de euros do Fundo Floresta, que integra o programa de Florestas Tropicais do KFW, com financiamento do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.
São parcerias que se fortalecem e que começam a trilhar o caminho proposto pela ONU, quando clama aos países mais ricos que não percam de vista os mais vulneráveis, porque um depende do outro nessa caminhada pelo futuro do planeta.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) do Governo do Amazonas.
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